O estresse é uma condição universal e multifacetada que impacta diretamente a saúde metabólica e comportamental, moldando os padrões alimentares de maneira significativa. Em estados de alta demanda emocional, muitas pessoas encontram nos alimentos ricos em açúcares, gorduras e amidos um conforto momentâneo. Essa resposta é mediada por mecanismos neurobiológicos que envolvem a liberação do hormônio do estresse, o cortisol, responsável por alterações no apetite e pelo aumento na preferência por alimentos altamente calóricos. Estudos realizados pela Universidade de Cincinnati demonstram essa tendência tanto em humanos quanto em modelos animais, evidenciando que o estresse crônico pode perpetuar um ciclo vicioso de ingestão alimentar inadequada e ganho de peso.
A mediação da dor para acessar o prazer transforma completamente a percepção sobre o que é "bom" ou "ruim". Atividades como a academia, inicialmente percebidas como desconfortáveis, revelam-se, de forma consciente, extremamente benéficas com o tempo, gerando resultados duradouros. Por outro lado, prazeres que aparentam suavidade, como o consumo de álcool ou alimentos calóricos para aliviar o estresse, parecem bons à primeira vista, mas seus efeitos a longo prazo demonstram o contrário. Essa capacidade de diferenciar o prazer imediato do benefício real é uma característica marcante do ser humano, o Homo sapiens, que pode, conscientemente, escolher o que promove bem-estar genuíno.
A obesidade, no entanto, não deve ser reduzida a uma consequência isolada do estresse. Trata-se de uma condição multifatorial que integra aspectos comportamentais, metabólicos e sociais. Dados epidemiológicos recentes de Fernandes et al. (2023), em um estudo com mulheres em Curitiba, revelaram uma prevalência alarmante de 65,9% de sobrepeso e obesidade. Entre os fatores de risco identificados estão idade avançada, menarca precoce, múltiplas gestações e menopausa, enquanto a escolaridade se destacou como um fator protetor. Essa relação inversa reflete o impacto do acesso desigual à informação e à adoção de hábitos mais saudáveis, favorecidos por condições socioeconômicas mais estáveis. Mas isso não é uma verdade universal, sabemos que fast-food não é barato, o bolo da brigaderia é mais caro que um PF.
As vezes, em uma tentativa inconsciente de fugir do estresse, as pessoas desenvolvem hábitos que, paradoxalmente, agravam o problema e as colocam em um ciclo vicioso que leva à obesidade. Comportamentos como o consumo excessivo de álcool, o uso de cigarros, drogas ilícitas ou até mesmo a adoção de uma postura de repulsa em relação a pessoas que buscam um estilo de vida saudável, tornam-se formas de autoengano. Frases como "não gosto de academia" ou "atividade física não é para mim" frequentemente escondem um mecanismo de defesa. Essas ações, longe de serem inofensivas, estão ligadas à busca de estímulos que ativam o sistema de recompensa do cérebro, particularmente em uma região chamada núcleo accumbens, conhecida por sua associação ao prazer imediato e à gratificação. Quando o estresse ativa a liberação de cortisol, o cérebro busca compensações rápidas para reduzir a sensação de desconforto. O núcleo accumbens, parte do sistema dopaminérgico, torna-se o centro desse processo. Essa área, responsável por modular recompensas e impulsionar comportamentos repetitivos, é altamente estimulada por substâncias como álcool e nicotina ou até por alimentos ricos em açúcar e gordura, criando uma ilusão de alívio. No entanto, essa "recompensa" é transitória e gera a necessidade de doses maiores e mais frequentes, estabelecendo um padrão perigoso de dependência. O resultado desse processo é um desequilíbrio profundo no sistema de prazer, em que escolhas mais saudáveis e duradouras, como atividade física ou alimentação equilibrada, passam a ser percebidas como menos satisfatórias em comparação com os prazeres instantâneos. Essa busca contínua por gratificação fácil não apenas perpetua o estresse, mas também contribui para o aumento de peso, à medida que padrões disfuncionais se tornam a norma. Para romper esse ciclo, é necessário não apenas identificar esses hábitos nocivos, mas também oferecer alternativas que restaurem o equilíbrio cerebral e promovam mudanças reais e sustentáveis.
No plano biológico, o tecido adiposo visceral desempenha um papel central na progressão da obesidade e suas complicações. Esse tipo de gordura, metabolicamente ativo, promove a liberação de substâncias pró-inflamatórias, como TNF-α, IL-6 e PCR. Essas adipocinas intensificam a resistência à insulina, alimentam processos inflamatórios crônicos e alteram o metabolismo lipídico, elevando o risco de doenças como diabetes tipo 2 e dislipidemias. Depósitos de gordura intramuscular, frequentemente associados à obesidade, também contribuem para a resistência à insulina, destacando a complexidade do quadro metabólico. Compreender essas bases científicas é essencial para desenvolver estratégias nutricionais eficazes e individualizadas.
Transformar a saúde de um paciente exige uma abordagem integrada, que considere tanto os fatores emocionais quanto metabólicos. Um exemplo marcante é o caso de Joana (nome fictício), que iniciou acompanhamento com sobrepeso severo e níveis elevados de estresse. Por meio de suplementação personalizada, ajustes alimentares e estratégias de manejo do estresse, ela conseguiu eliminar 32 kg de gordura em oito meses, além de melhorar significativamente sua qualidade de sono e disposição. Outro exemplo é Pedro (nome fictício), que enfrentava uma relação disfuncional com a alimentação e apresentava altos níveis de ansiedade. Em um ano de acompanhamento, Pedro reduziu 55% de sua gordura corporal, reconstruiu sua relação com a comida e apresentou melhorias expressivas em seu perfil metabólico.
Embora esses casos sejam exemplos de sucesso, muitos pacientes chegam com a impressão de que a obesidade é um mistério. Na prática, é o resultado de escolhas acumuladas ao longo do tempo. Pequenos hábitos diários, repetidos de forma inconsciente, acabam por determinar o estado metabólico e comportamental do indivíduo. Listo aqui 20 comportamentos que frequentemente levam à obesidade:
1. Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados.
2. Excesso de açúcar na dieta diária.
3. Falta de controle no tamanho das porções.
4. Comer emocionalmente para aliviar estresse ou tristeza.
5. Vida sedentária sem atividade física regular.
6. Sono insuficiente ou de má qualidade.
7. Consumo exagerado de bebidas alcoólicas.
8. Falta de horários regulares para as refeições.
9. Preferência por fast-foods e alimentos ricos em gorduras ruins.
10. Ignorar sinais de saciedade.
11. Substituir refeições completas por lanches pobres em nutrientes.
12. Estresse crônico sem gerenciamento adequado.
13. Não beber água suficiente.
14. Passar muitas horas sentado, seja no trabalho ou em casa.
15. Não cozinhar em casa, dependendo de alimentos industrializados.
16. Consumir alimentos diretamente da embalagem, sem porcionar.
17. Comer assistindo televisão ou usando dispositivos eletrônicos.
18. Ausência de planejamento alimentar.
19. Falta de acompanhamento profissional em saúde.
20. Resistência a mudar hábitos antigos.
Esses 20 hábitos são como uma conta acumulativa: cada escolha negativa, somada ao longo do tempo, resulta no sobrepeso ou na obesidade. Por outro lado, corrigir esses padrões com pequenas mudanças consistentes promove um impacto positivo igualmente acumulativo, capaz de reverter o quadro. Como sempre digo aos meus pacientes, muitas pessoas buscam soluções rápidas e milagrosas, mas ignoram o poder transformador do básico. Alimentação equilibrada, movimento diário, sono reparador e controle do estresse são os pilares fundamentais para qualquer transformação.
O estresse, além de amplificar escolhas impulsivas, atua como um arquiteto silencioso de padrões prejudiciais. Reconhecer sua influência é o primeiro passo para quebrar ciclos viciosos e construir novos hábitos mais saudáveis. Não é uma tarefa fácil, mas é essencial para alcançar uma vida mais equilibrada e livre das complicações associadas à obesidade. A ciência nos mostra que a verdadeira mudança ocorre com paciência, reflexão e responsabilidade pessoal. Em minha prática, o foco não está apenas em números ou estatísticas, mas nas histórias únicas de cada paciente. O objetivo é oferecer ferramentas e suporte para que eles conquistem uma saúde plena, reconstruindo sua relação com a alimentação e com o próprio corpo. Cada transformação é uma prova de que, com esforço genuíno e estratégias fundamentadas, é possível superar desafios e alcançar um futuro mais saudável e promissor.
Jayme Assunção
Pós-graduado em Neurociência, Nutrição Ortomolecular e Esportiva
CRN 11090
SeuNutricionista®
www.seunutricionista.com
Telefone: 75 3022.1510
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