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Lipoproteina (a), Vitamina D, Cálcio e você sem saber a sua relação? Cuidado.

Atualizado: 21 de jun.

A lipoproteína(a) representa um dos marcadores de risco cardiovascular mais desafiadores na prática nutricional contemporânea. Com valores pessoais persistentemente elevados de 68,0 mg/dL e 85,0 mg/dL, muito acima do limite de referência de 30 mg/dL, venho observando na prática clínica nutricional a complexidade do manejo dietético desta condição geneticamente determinada. A literatura científica demonstra que níveis acima de 20 a 30 mg/dL duplicam o risco de eventos cardiovasculares maiores, incluindo infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. O que torna a Lp(a) particularmente desafiadora é sua resistência às intervenções nutricionais convencionais que funcionam bem para outras frações lipídicas. Esta revisão aborda as interações perigosas e frequentemente negligenciadas entre Lp(a) elevada, estado nutricional de vitamina D3, composição corporal, padrão alimentar e metabolismo do cálcio, baseando se em evidências científicas recentes e observações da prática clínica nutricional. A compreensão dessas interações complexas é fundamental para orientar adequadamente nossos pacientes e prevenir progressão da aterosclerose através de estratégias dietéticas específicas.


O excesso de vitamina D em pacientes com hipotireoidismo e Lp(a) elevada configura cenário metabólico de alto risco que frequentemente observo em consultas nutricionais. Pacientes chegam consumindo megadoses de vitamina D por conta própria ou por orientações inadequadas, apresentando níveis séricos superiores a 60, 80 ou até 100 ng/mL. A meta análise de Mirhosseini (2021) demonstrou que pacientes hipotireoideos apresentam maior susceptibilidade à hipercalcemia durante suplementação excessiva. Na prática nutricional, oriento manutenção de níveis entre 30 e 40 ng/mL através de exposição solar adequada e consumo moderado de alimentos fontes como peixes gordurosos (salmão, sardinha, cavala), gema de ovo e cogumelos expostos à luz UV. A obtenção de vitamina D através de alimentos, diferentemente da suplementação isolada, fornece matriz nutricional complexa que modula sua absorção e metabolismo. Pacientes obesos necessitam atenção especial, pois o sequestro de vitamina D pelo tecido adiposo pode mascarar estados de excesso, criando falsa impressão de deficiência. A adiposidade visceral, particularmente prejudicial em pacientes com Lp(a) elevada, interfere no metabolismo da vitamina D e amplifica estado inflamatório sistêmico.


A relação entre composição corporal e metabolismo da Lp(a) merece atenção detalhada na avaliação nutricional. O tecido adiposo visceral não é simplesmente um depósito de energia, mas órgão endócrino ativo que secreta adipocinas pró inflamatórias como TNF alfa, IL-6 e resistina. Estas citocinas amplificam os efeitos aterogênicos da Lp(a) através de múltiplos mecanismos, incluindo aumento da permeabilidade endotelial e oxidação de lipoproteínas. Em minha prática, utilizo bioimpedância segmentar para avaliar não apenas percentual de gordura total, mas distribuição entre compartimentos visceral e subcutâneo. Pacientes com Lp(a) elevada e adiposidade visceral superior a 10% apresentam risco cardiovascular exponencialmente maior. A redução de 1 kg de gordura visceral através de modificações dietéticas pode resultar em melhora significativa de marcadores inflamatórios, mesmo sem alteração nos níveis de Lp(a). O padrão de distribuição androide de gordura, comum em homens e mulheres pós menopausa, correlaciona se com maior expressão de genes inflamatórios no tecido adiposo. A circunferência abdominal, medida simples mas poderosa, deve ser rigorosamente monitorada: valores acima de 88 cm em mulheres e 102 cm em homens indicam necessidade urgente de intervenção nutricional.


O papel do cálcio dietético versus suplementar na progressão da calcificação vascular em pacientes com Lp(a) elevada representa dilema nutricional complexo. Estudos demonstram que cálcio proveniente de alimentos não aumenta risco cardiovascular, enquanto suplementação pode acelerar calcificação arterial. A diferença reside na matriz alimentar: cálcio de laticínios/vegetais vem acompanhado de proteínas bioativas, vitamina K2 (menaquinona), fósforo em proporção adequada e outros nutrientes que modulam sua absorção e destino metabólico. Em pacientes com Lp(a) elevada, recomendo obtenção de 800 a 1000 mg de cálcio diários exclusivamente através de alimentos: iogurte natural (400 mg/200g), queijos brancos (300 mg/60g), vegetais verde escuros como couve (200 mg/100g cozida), gergelim (100 mg/10g) e sardinha com espinha (300 mg/100g). A vitamina K2, abundante em queijos fermentados e natto, direciona cálcio para ossos em vez de artérias, mecanismo crucial em presença de Lp(a) elevada. Pacientes veganos requerem planejamento cuidadoso para atingir necessidades de cálcio através de tofu preparado com sulfato de cálcio, bebidas vegetais fortificadas e adequada variedade de vegetais.


A interação entre excesso de cálcio circulante e Lp(a) elevada na formação de ateromas calcificados fundamenta se em mecanismos moleculares elucidados por pesquisas recentes. Rogers e Aikawa (2022) demonstraram que Lp(a) induz liberação de vesículas extracelulares enriquecidas com anexinas, proteínas que facilitam deposição de cálcio. Quando combinamos hipercalcemia induzida por excesso de vitamina D com Lp(a) elevada, criamos tempestade perfeita para calcificação acelerada. Na prática nutricional, observo que pacientes consumindo mais de 1500 mg de cálcio suplementar diariamente apresentam progressão mais rápida de escore de cálcio coronariano. A proporção cálcio:magnésio na dieta assume importância crítica, devendo aproximar se de 2:1. Alimentos ricos em magnésio como cacau puro (500 mg/100g), castanha do Pará (350 mg/100g), espinafre (80 mg/100g cozido) e abacate (30 mg/100g) devem ser incluídos diariamente. O magnésio antagoniza deposição de cálcio em tecidos moles e melhora sensibilidade a insulina, benefício adicional em pacientes com síndrome metabólica e Lp(a) elevada.


O controle glicêmico através de estratégias nutricionais específicas emerge como pilar fundamental no manejo de pacientes com Lp(a) elevada. A hiperglicemia crônica, mesmo em níveis considerados "pré diabéticos", promove glicação de lipoproteínas incluindo a Lp(a), tornando as mais aterogênicas. Em minha prática, implemento protocolo de baixo índice glicêmico com ênfase em carboidratos complexos ricos em fibras solúveis, mas sempre gosto de destacar que o foco não é curva glicêmica de alimentos. Aveia em flocos grossos (4g fibra beta glucana/40g), psyllium (7g fibra/10g), leguminosas variadas (8g fibra/100g cozidas) e quinoa (5g fibra/100g cozida) formam base do aporte de carboidratos. A sequência alimentar importa: iniciar refeições com vegetais crus e proteínas retarda absorção de glicose e reduz picos glicêmicos. Pacientes com Lp(a) elevada e hemoglobina glicada acima de 5,7% beneficiam se de distribuição de carboidratos em 4 a 5 pequenas refeições, evitando sobrecarga metabólica. A inclusão de canela Ceylon (1 a 2g diárias) e vinagre de maçã (15 ml antes das refeições principais) demonstra efeitos modestos mas consistentes na melhora da sensibilidade insulínica.


O metabolismo dos triglicerídeos e sua interação sinérgica com Lp(a) elevada requer abordagem nutricional específica e por vezes até rigorosa. Como mencionado anteriormente, a combinação pode triplicar risco cardiovascular. O fígado gorduroso não alcoólico, presente em 70% dos pacientes obesos com Lp(a) elevada que atendo, perpetua hipertrigliceridemia através de aumento na produção de VLDL. A restrição de frutose industrial emerge como prioridade: refrigerantes, sucos industrializados, produtos com xarope de milho devem ser completamente eliminados. Frutose de frutas inteiras, limitada a 2 a 3 porções diárias, não apresenta mesmo efeito deletério devido à matriz de fibras. O álcool, mesmo em quantidades consideradas "moderadas", eleva triglicerídeos e deve ser evitado. Implemento protocolo de jejum intermitente 16:8 em pacientes metabolicamente estáveis, observando reduções de 30 a 50% nos triglicerídeos após 12 semanas. A inclusão de MCT (triglicerídeos de cadeia média) do óleo de coco (10 a 15g diários) paradoxalmente pode reduzir triglicerídeos por não requerer quilomícrons para absorção.


O papel dos ácidos graxos ômega 3 no manejo nutricional da Lp(a) elevada transcende simples suplementação. EPA e DHA provenientes de peixes gordurosos apresentam biodisponibilidade superior e efeitos anti inflamatórios mais pronunciados que formas vegetais (ALA). Recomendo consumo de 200 a 300g semanais de peixes pequenos como sardinha, cavala e arenque, que acumulam menos metais pesados. A proporção ômega 6:ômega 3 na dieta ocidental típica de 20:1 deve ser reduzida para próximo de 4:1. Isto requer não apenas aumento de ômega 3, mas redução drástica de óleos vegetais refinados ricos em ômega 6 (soja, milho, girassol). Azeite extravirgem, com predominância de ômega 9 monoinsaturado, torna se gordura de escolha para cocção em baixa temperatura. Pacientes com triglicerídeos acima de 500 mg/dL podem beneficiar se de 2 a 4g diários de EPA/DHA através de alimentos, observando reduções de 30 a 40%. A inclusão de linhaça dourada triturada na hora (2 colheres de sopa diárias) fornece ALA e lignanas com propriedades anti inflamatórias adicionais.


O estado inflamatório crônico de baixo grau, onipresente em pacientes com Lp(a) elevada e excesso de adiposidade, requer estratégia anti inflamatória dietética abrangente. Alimentos ultraprocessados, independentemente de perfil de macronutrientes, promovem inflamação através de aditivos, produtos de glicação avançada (AGEs) e disruptores endócrinos. Implemento protocolo de alimentos integrais com ênfase em densidade nutricional. Vegetais crucíferos (brócolis, couve flor, repolho roxo) consumidos 5 vezes por semana fornecem sulforafano e indol 3 carbinol com potente ação anti inflamatória. Frutas vermelhas ricas em antocianinas (mirtilo, amora, açaí puro - amazônico) demonstram capacidade de reduzir PCR ultrassensível. Especiarias como cúrcuma (3 a 5g diárias com pimenta preta (cuidado, somente com prescrição) para biodisponibilidade), gengibre fresco (5g diários) e alho (2 a 3 dentes diários) amplificam efeitos anti inflamatórios. A cocção em baixa temperatura (abaixo de 120°C) e métodos úmidos (vapor, pochê) reduzem formação de AGEs. Churrascos e frituras, populares em nossa cultura, devem receber uma atenção redobrada para pacientes com LPa elevada.


A microbiota intestinal emerge como modulador importante do risco cardiovascular, onde a disbiose intestinal correlaciona se com aumento de TMAO (óxido de trimetilamina), metabólito bacteriano que acelera aterosclerose. Prebióticos específicos demonstram capacidade de modular favoravelmente microbiota e reduzir inflamação sistêmica. Incluo diariamente: farinha de banana verde (1 ou 2 colheres de sopa), rico em amido resistente; alho poró e cebola crua (50g), fontes de inulina; aspargos (100g), com fruto oligossacarídeos; e batata yacon (100g - difícil acesso mas com um poder incrível), excepcional fonte de FOS. Alimentos fermentados como kefir, kombucha e outros probióticos naturais. Evito adoçantes artificiais que comprovadamente alteram microbiota e aumentam intolerância à glicose, ja bati muito nisso em redes sociais e continuo afirmando: Se você não é diabético, e for beber, beba com açúcar mesmo ; mas esses é um assunto para outra hora.


A cronobiologia nutricional oferece perspectiva inovadora no manejo de pacientes com Lp(a) elevada. O timing das refeições influencia significativamente metabolismo lipídico e inflamação. Implemento janela alimentar alinhada ao ritmo circadiano: primeira refeição após nascer do sol, última antes do pôr do sol. O jejum noturno de 12 a 14 horas permite ativação de vias de reparo celular e redução de marcadores inflamatórios. Pacientes que consomem maior proporção calórica no período matutino apresentam melhor controle glicêmico e lipídico. O café da manhã proteico (30g proteína) com gorduras saudáveis estabiliza glicemia por horas. Evito carboidratos isolados no período noturno, quando sensibilidade a insulina está naturalmente reduzida. A exposição à luz natural pela manhã e redução de luz azul à noite otimiza produção de melatonina, hormônio com propriedades antioxidantes e cardioprotetoras. Trabalhadores noturnos com Lp(a) elevada apresentam desafio particular, requerendo adaptações específicas para minimizar problemas na interação da baixa produção de testo e altos picos de cortisol.


A densidade nutricional assume importância paramount em pacientes com Lp(a) elevada que necessitam restrição calórica para perda de peso. Cada caloria deve fornecer máximo valor nutritivo, priorizando alimentos com alta concentração de vitaminas, minerais e fitoquímicos. Fígado bovino orgânico (100g quinzenais) fornece vitamina A, B12, folato e ferro heme biodisponível. Ostras (6 unidades semanais) são excepcionalmente ricas em zinco, crucial para função imune e reparo tecidual. Gema de ovo caipira (2 diárias) fornece colina, essencial para metabolismo lipídico hepático, além de luteína e zeaxantina protetoras. Vegetais folhosos verde escuros devem compor base de cada refeição: 200g diários mínimos de mix incluindo rúcula, agrião, espinafre baby e couve. Sementes variadas (chia, linhaça, girassol, abóbora) fornecem minerais traço frequentemente deficientes. A suplementação indiscriminada pode desequilibrar relações entre nutrientes: priorizo obtenção através de alimentos integrais.


O manejo nutricional específico de mulheres na pós menopausa com Lp(a) elevada requer considerações especiais devido às alterações hormonais e metabólicas características. A redução abrupta de estrogênio afeta negativamente metabolismo lipídico e distribuição de gordura corporal. Fitoestrogênios de soja não fermentada apresentam resultados controversos, mas formas fermentadas como tempeh e natto demonstram benefícios consistentes. Incluyo 50 a 100g diários de produtos de soja fermentada, ricos também em vitamina K2. Lignanas da linhaça (2 colheres de sopa diárias, trituradas) apresentam atividade estrogênica suave e melhoram perfil lipídico. O consumo adequado de proteína (1,2 a 1,5g/kg peso) previne sarcopenia acelerada comum nesta fase. Fontes magras como peito de frango orgânico, peixes e clara de ovo devem ser distribuídas em todas as refeições. A densidade óssea requer atenção sem recorrer a suplementação excessiva de cálcio: além de fontes alimentares já mencionadas, exercícios de impacto e resistência são fundamentais.


A hidratação adequada, frequentemente negligenciada, impacta significativamente viscosidade sanguínea e risco trombótico em pacientes com Lp(a) elevada. Recomendo 35 a 40 ml/kg de peso corporal de água pura diariamente, aumentando em clima quente ou atividade física. A qualidade da água importa: filtração adequada remove contaminantes que podem aumentar carga oxidativa. Água alcalina natural (pH 7,5 a 8,5) de fontes minerais pode oferecer benefícios adicionais, embora evidências sejam limitadas. Chás específicos amplificam hidratação com benefícios funcionais: chá verde (3 xícaras diárias) fornece EGCG com propriedades antioxidantes; hibisco (2 xícaras) demonstra efeito hipotensor suave; e chá de canela Ceylon auxilia controle glicêmico. Bebidas açucaradas, incluindo sucos naturais, devem ser evitadas por promoverem desidratação celular paradoxal. Monitoramento da cor da urina fornece feedback simples sobre estado de hidratação. Café, apesar de propriedades antioxidantes, deve limitar se a 2 xícaras diárias devido efeito diurético.


O protocolo de preparação e cocção dos alimentos influencia dramaticamente formação de compostos pró inflamatórios em pacientes com Lp(a) elevada. Marinadas ácidas com limão, vinagre ou vinho antes do cozimento reduzem formação de AGEs em até 50%. Cocção em baixa temperatura preserva nutrientes termossensíveis e minimiza oxidação lipídica. Panela de pressão, apesar de temperatura elevada, reduz tempo de exposição e preserva nutrientes. Evito completamente frituras em imersão e grelhados em contato direto com chama. Métodos preferidos incluem vapor, assado em baixa temperatura (150°C), refogados rápidos e sous vide quando disponível. O reaproveitamento de óleos de cocção, prática comum, deve ser abolido devido formação de aldeídos tóxicos. Consumo de alimentos crus deve representar 40 a 50% do volume diário, fornecendo enzimas e fitoquímicos intactos. Germinação de sementes e grãos aumenta biodisponibilidade de nutrientes e reduz antinutrientes.


Fermentação caseira de vegetais preserva e potencializa propriedades benéficas.

A abordagem personalizada baseada em exames laboratoriais específicos otimiza resultados em pacientes com Lp(a) elevada. Além do perfil lipídico completo, solicito regularmente: PCR ultrassensível para avaliar inflamação; homocisteína, marcador independente de risco vascular; ácido úrico, que quando elevado potencializa aterosclerose; ferritina, pois sobrecarga de ferro acelera oxidação lipídica; e perfil de ácidos graxos eritrocitários quando disponível. Vitamina D mantenho rigorosamente entre 30 e 40 ng/mL através de ajustes dietéticos e exposição solar. Pacientes com homocisteína elevada beneficiam se de protocolo de metilação com folato de alimentos (400mcg diários de vegetais verdes), B12 de fontes animais e betaína da beterraba. Ferritina acima de 200 ng/mL em homens e 150 ng/mL em mulheres indica necessidade de restrição de ferro heme e possível flebotomia. Cada alteração laboratorial direciona ajustes nutricionais específicos, criando abordagem verdadeiramente personalizada.


O exercício físico, componente essencial do estilo de vida, interage sinergicamente com intervenções nutricionais em pacientes com Lp(a) elevada. Estudos demonstram que gasto energético superior a 300 Kcal/dia correlaciona se com níveis menores de Lp(a). Prescrevo combinação de exercícios aeróbicos (150 minutos semanais, intensidade moderada) com treinamento de força (2 a 3 sessões semanais). A construção de massa muscular melhora sensibilidade insulínica e cria "esponja metabólica" para glicose. Exercícios em jejum matinal potencializam oxidação de gorduras e ativam vias de biogênese mitocondrial. Pacientes sedentários iniciam com caminhadas de 10 minutos após refeições, progredindo gradualmente. HIIT (treinamento intervalado de alta intensidade) demonstra benefícios superiores em tempo reduzido, mas requer avaliação cardiovascular prévia. A nutrição pré e pós treino deve ser individualizada: carboidratos complexos 2 horas antes, proteína de rápida absorção até 30 minutos após. Overtraining paradoxalmente aumenta inflamação e deve ser evitado através de periodização adequada.


O sono reparador emerge como pilar fundamental frequentemente negligenciado no manejo de pacientes com Lp(a) elevada. Privação crônica de sono (menos de 7 horas) correlaciona se com aumento de marcadores inflamatórios, resistência insulínica e desregulação do apetite. Implemento protocolo de higiene do sono incluindo jantar leve 3 horas antes de dormir, rico em triptofano (peru, ovos) e magnésio. Carboidratos complexos em pequena quantidade podem facilitar entrada de triptofano no cérebro. Evito completamente cafeína após 14h e álcool, que fragmenta arquitetura do sono. Chá de camomila, passiflora ou valeriana 1 hora antes de dormir apresentam efeitos ansiolíticos suaves. Exposição a luz vermelha no período noturno e blackout completo no quarto otimizam produção de melatonina. Pacientes com apneia do sono, comum em obesos com Lp(a) elevada, requerem avaliação especializada urgente. A posição de dormir influencia: decúbito lateral esquerdo melhora retorno venoso e reduz refluxo. Jejum de 3 horas antes de dormir permite ativação de autofagia noturna.


O estresse crônico, endêmico em nossa sociedade, amplifica todos os fatores de risco em pacientes com Lp(a) elevada através de ativação do eixo hipotálamo pituitária adrenal. Cortisol cronicamente elevado promove resistência insulínica, hipertensão e redistribuição de gordura para região visceral. Estratégias nutricionais anti estresse incluem: magnésio (400 a 600mg através de alimentos), vitaminas do complexo B abundantes em carnes e ovos, e adaptógenos naturais como ashwagandha e rhodiola quando indicados. Chocolate amargo 70% cacau (20 a 30g diários) fornece teobromina e anandamida com efeitos moduladores do humor. Evito estimulantes excessivos que perpetuam ciclo de estresse. Refeições regulares previnem hipoglicemia reativa, gatilho de liberação de cortisol. Mastigação adequada (30 vezes por garfada) ativa sistema nervoso parassimpático. Rituais alimentares conscientes, sem distrações eletrônicas, melhoram digestão e reduzem ansiedade. Pacientes beneficiam se de técnicas simples de respiração diafragmática antes das refeições.


O acompanhamento nutricional longitudinal e ajustes dinâmicos do plano alimentar garantem sucesso sustentável em pacientes com Lp(a) elevada. Consultas mensais nos primeiros 3 meses estabelecem hábitos sólidos, espaçando para bimestrais conforme adesão. Utilizo diário alimentar fotográfico via aplicativo para avaliação precisa e feedback imediato. Medidas antropométricas incluem não apenas peso, mas composição corporal por bioimpedância, circunferências e pregas cutâneas. Exames laboratoriais trimestrais no primeiro ano permitem ajustes finos baseados em resposta individual. Celebro pequenas vitórias: redução de 5% no peso, melhora de 10% em marcadores inflamatórios, aumento de massa muscular. Estratégias comportamentais incluem planejamento de refeições semanais, lista de compras estruturada e preparação antecipada de alimentos. Envolvimento familiar multiplica chances de sucesso. Grupos de apoio online ou presenciais fornecem motivação adicional. Flexibilidade controlada em 10% das refeições previne sensação de privação. O foco mantém se em adição de alimentos benéficos antes de restrições.


A perspectiva integrativa reconhece que Lp(a) elevada, embora geneticamente determinada, não representa sentença inevitável quando abordada através de modificações abrangentes no estilo de vida. A nutrição funcional, focada em alimentos como medicina, oferece ferramentas poderosas para modular expressão gênica e minimizar riscos. Cada refeição representa oportunidade de fornecer informação celular benéfica. A sinergia entre nutrientes em alimentos integrais supera qualquer suplemento isolado. Pacientes empoderados com conhecimento sobre suas condições genéticas tornam se parceiros ativos no cuidado. A jornada nutricional em direção à saúde cardiovascular ótima, mesmo com Lp(a) elevada, é completamente possível através de escolhas alimentares conscientes, consistentes e cientificamente embasadas. O investimento em prevenção através da nutrição representa economia futura em tratamentos e, mais importante, preservação da qualidade de vida. Como profissionais de nutrição, temos responsabilidade e privilégio de guiar nossos pacientes nesta transformação, respeitando individualidade bioquímica enquanto aplicamos evidências científicas mais recentes.


Referências Bibliográficas:


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1 comentário


g.umbelino
17 de mar. de 2023

Ótimo artigo, como nos fortalece diante das adversidades que interferem para se ter uma constância tanto no plano, quanto numa rotina saudável, conhecimento que amplia a consciência e melhora nossa relação com o nosso corpo. Parabéns e grata pela contribuição.!

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