Todos nós sabemos que para o organismo se manter vivo e em pleno funcionamento existe a divisão celular: processo pelo qual uma célula-mãe origina células-filhas. Isso acontece desde a forma feto até os últimos dias da vida do ser humano e assim estamos crescendo, trocando de pele, formando massa muscular através de estímulos, reparando tecidos durante o sono e curando patologias que podem interferir desde a formação óssea até funções cognitivas. Para que essas divisões ocorram, várias enzimas executam suas funções, garantindo que o molde seja duplicado e mantendo as características funcionais e estruturais para a célula filha. O mais interessante disto é que, com o passar do tempo e a redução dessa atividade, começamos a perceber que o envelhecimento vai se aproximando e nossa estrutura física muda, espelhando um retardo da eficiência da multiplicação celular. A pesquisa desenvolvida por Elizabeth Blackburn, sua aluna Carol Greider e Jack Szostak, seu colaborador, mostrou que existe uma enzima, chamada telomerase, capaz de repor as unidades de DNA perdidas durante a divisão celular, impedindo o encurtamento dos telômeros, os quais citei no texto: Telômero, inflamação e envelhecimento: A percepção que pode mudar a sua vida.
Atividade física, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que requer gasto de energia. Hoje, com a crescente busca por mais saúde e qualidade de vida, estamos vendo pessoas executando treinos mais intensos e frequentes. Inicialmente, isso me parece ser muito bom, mas venho buscando conhecer cada vez mais o processo de envelhecimento humano e, como citei acima, existe um sistema de restauração celular automático que podemos acelerar através da atividade física, multiplicando mais células e fazendo com que o corpo tenha que repor aquilo que destruímos quando estamos na academia, correndo, jogando bola, ou seja lá qual for o exercício físico. Para falar mais afundo quero que você entenda que no treino estamos destruindo o tecido, gastando energia e perdendo água. Ninguém cresce no treino, é no descanso que a "mágica" acontece!
Existem algumas patologias que aceleram a degradação de tecidos, processo mais conhecido como catabolismo, sendo amedrontador para o envelhecimento humano. Um exemplo disso é a insuficiência renal crônica, onde a função proteica é reduzida de forma drástica, os tecidos ficam sem substratos (aminoácidos) para a reconstrução e aos poucos ou muito rápido o indivíduo perde tecido muscular, entrando em sarcopenia antecipada, antes da hora natural das coisas. Se uma pessoa acometida por essa patologia for para academia e começar a pegar pesos que degradam mais ainda o tecido muscular, não conseguindo através da alimentação obter os nutrientes necessários para a reconstrução, a doença avança. Entendendo que o nutrientes são necessários para o processo de reformação do tecido quando fazemos atividade física, precisamos comer aquilo que vai fazer o trabalho correto e não exagerar naquilo que vai prejudicar a atividade celular. Isso é muito importante para que não tenhamos prejuízos com a prática de exercícios. Não adianta correr 10km três vezes por semana e tomar sorvete logo em seguida!
A minha visão é que atividade física é o melhor remédio não farmacológico disponível, pois faz com que seu tecido se renove melhor quando também associado a uma alimentação adequada. Diversos estudos associam o comportamento de treinar 60 minutos por dia ao controle e tratamento de diversas disfunções crônico-degenerativas, aumento e manutenção da massa muscular, da densidade mineral óssea, melhora na saúde cardiovascular, respiratória, metabólica e não há nenhuma dúvida: redução do sobrepeso e obesidade. No acompanhamento clínico, observo diretamente e atentamente como estão a digestão, absorção e apetite do meu paciente, com o claro objetivo de saber se aquele nutriente que vou fornecer através da dieta vai conseguir chegar ao tecido muscular da forma mais adequada possível. Nosso processo de envelhecimento, quando associado a atividade dos telômeros, é conhecido como senescência e este está diretamente ligado a composição de massa magra e tecido adiposo que são analisados através de avaliações feitas em meu consultório como: bioimpedância e antropometria. O exercício físico aumenta a produção de moléculas instáveis e extremamente reativas capazes de transformar outras moléculas com as quais colidem, podendo levar ao estresse oxidativo caso este aumento seja maior do que a capacidade do sistema de defesa antioxidante em eliminar essas toxinas. Muito é utilizado de suplementos antioxidantes e mesmo sabendo que na prática isso funciona, é em pouco ou quase nada na literatura associado a telômeros e processo de envelhecimento humano.
"Apesar de não ter sido encontrada associação entre os níveis de Beta-Caroteno e comprimento telomérico, os resultados sugerem que níveis mais altos do carotenoide, como uma expressão de maior status antioxidante e consequentemente de menor estresse oxidativo, podem desempenhar um papel na proteção dos telômeros pela manutenção da telomerase" (Eur J Nutr; 59(1): 119-126, 2019). Se a nossa morte está ligada a função telomérica é necessário estudar mais o que realmente nos mantém bem vivos. Enquanto isso, temos que procurar ter uma vida equilibrada, comendo bem, treinando continuamente e sem excessos. Assim não precisamos ficar consumindo antioxidantes antes e após atividade física com o objetivo de reparação tecidual, visto que é o conjunto que importa: o quanto você for capaz de beber pequenas doses de água ao invés de beber 2 litros de vez, pequenas doses de frutas, verduras, legumes, proteínas e carboidratos, ao invés de comer 1kg antes do treino e 500g depois achando que está abalando. Em contraste, um alto consumo de bebidas açucaradas, carne processada e dietas pró-inflamatórias está associado a destruição tecidual em sua reformação. Reduzir processo inflamatório é necessário para que a atividade física não seja prejudicial, ai é como eu digo em consulta: não adianta a pessoa em estado de obeso(a) ficar se acabando na musculação! Para formar músculo é necessário a inflamação crônica. Vou te dizer 5 pontos sobre como atividade física pode envelhecer uma pessoa mais rápido do que ela pensa:
Desnutrição. Isso inclui ausência de frutas, legumes, proteínas de boa qualidade e pouca água.
Estresse mental, depressão e ansiedade crônica. Muito se diz que atividade física ajuda nessas situações, só que é importante lembrar que deve ser realizada em um horário em que o cortisol esteja baixo ou equilibrado, já que esse danado estimula a proteólise (quebra proteica) e seu aumento pode determinar a perda muscular e diminuição da força, conhecida como dinapenia. Então se você se encaixa aqui, me procure antes se jogar nos treinos.
Atividade aeróbica sem musculação ou exercício com carga. Como venho falando, é necessário o estimulo muscular e uma quantidade de nutrientes suficiente para fazer a reconstrução após atividade física. Nos treinos de corrida, bike, entre outros, utiliza-se muitos nutrientes e perde-se bastante água, dificultando a reconstrução do músculo. Isso tende a virar uma bola de neve que vou tentar explicar da seguinte forma: correu 10km, perdeu 0,2kg de músculo, não estimulou e nem nutriu. Correu mais 10km, perdeu 0,2kg de músculo novamente e assim repetidamente, até que 2 ou 3 anos depois, o indivíduo já reduziu uma quantidade significativa do seu percentual de massa magra.
Patologias ligadas a função renal, respiratória e neurodegenerativas. Nestes casos é indispensável o acompanhamento físico e nutricional!
Ausência da atividade física. Como meu objetivo é deixar claro que devemos ter cuidado com nossa saúde, reforço que: a melhor forma de fazer atividade física é nutrindo seu organismo, para evitar tudo o que foi citado neste texto e desejo que você tenha tempo para fazer 60 minutos por dia para mais tarde não se arrepender. Uma pesquisa internacional realizada recentemente mostrou que a falta de atividade física e o sedentarismo, mata tanto quanto o fumo!
JAYME ASSUNÇÃO
NUTRICIONISTA
CRN: 11090
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